O interesse da colonização do Brasil estava associado aos projetos da burguesia mercantil, contextualizada no âmbito do capitalismo comercial. A descoberta de novas terras demandava complexidades que não interessavam a empreendedores interessados ainda com o comércio com as Índias. Apenas com o declínio do comércio oriental e a ameaça causada pelas expedições de outras nações europeias no território colonial americano que as autoridades portuguesas decidiram mobilizar interesses para sua efetiva colonização. A solução tentada foi a de povoação e exploração.
De acordo com Caio Prado
Júnior, em História Econômica do Brasil, ninguém se interessava pelo
Brasil (1984: 31). Os traficantes de madeira enfrentavam o declínio deste
comércio e raramente apareciam aventureiros dispostos a colonizar o vasto
território e suas ameaças. No entanto, doze interessados, todos de pequena
expressão social e econômica, decidiram enfrentar os problemas, sendo que
apenas dois tiveram êxito. A divisão das terras coloniais estava estendida em
linhas divisórias com diferentes extensões. Estas seriam denominadas de
Capitanias Hereditárias. Os donatários, ou seja, quem recebia as terras, tinham
direitos de soberania nestas possessões, mantendo, todavia, laços de suserania
com El Rei.
A investida contou com a
aquisição de empréstimos junto a banqueiros judeus holandeses (1984:32),
principalmente para a ativação de plantações de cana-de-açúcar. O produto era
valorizado na Europa, mas os fornecedores de matéria-prima eram poucos, se
destacando apenas a ilha da Sicília e as ilhas portuguesas no Atlântico (Madeira
e Cabo Verde). O açúcar era comercializado pelos italianos que o traziam do
Oriente, mas sua aquisição dependia do consórcio com os islâmicos que
intermediavam o comércio pelo mar Mediterrâneo, o que tornava o produto dispendioso.
O Brasil entraria para o
circuito deste comércio devido seu clima e mão-de-obra dos índios dóceis
litorâneos. A decisão de fornecer latifúndios para os pioneiros foi decisiva.
Aliás, o comércio canavieiro pede enormes extensões de terra para que haja
justa competição no fornecimento dos volumes. Com este cenário, a exploração dependia
de muitos trabalhadores, o que afastava o pequeno produtor. O latifúndio foi a
tônica das colonizações americanas, exceção apenas para as colônias de clima
temperado no hemisfério norte.
O clima foi determinante.
Na colonização inglesa na América do Norte, a Geórgia e a Carolina, de clima
subtropical, estavam planejadas para serem divididas em pequenos lotes, o que
limitava sua produção ao atender o maior número de pequenos lavradores. A
produção foi ínfima, cedendo para a exploração comum à moda plantation.
A monocultura estava sintonizada com a perspectiva de comércio de além-mar e
desinteressava-se de mão-de-obra especializada. O europeu comum não estava
disposto de se tornar trabalhador na agricultura colonial. Inclusive, os
ingleses tentaram estabelecer uma semiescravidão em suas colônias com
nacionais, não havendo adesão. A solução para mão-de-obra foi o trabalho de
africanos então escravizados.
No mundo colonial
americano português, o trabalho indígena nas lavouras era inicialmente livre.
Porém, com a disciplinarização do trabalho nos engenhos, aliado ao sedentarismo
agrícola, os índios cedo estranharam esta execução laboral pois eram de natureza
nômade (1984:35). A escravidão foi, por isso, estabelecida. A decisão não
foi benéfica para os colonos, os ataques dos índios atrasaram centros urbanos e
lavouras foram saqueadas e queimadas. No ano de 1570, o Rei D. Sebastião,
tentou facilitar o controle da situação com a liberação de ataques a tribos
indígenas rebeladas com a Carta de guerra justa, o que motivava a
escravização de índios. Os índios aldeados e pacíficos estariam livres do
trabalho compulsório, não fosse os bandeirantes que não faziam a distinção
entre os índios.
Os africanos escravizados
foram trazidos para as lavouras da colônia diante da escassez de trabalhadores
nativos. A alocação destes trabalhadores se dava nos latifúndios canavieiros.
Nos Engenhos, que era propriedade e fábrica, havia a manipulação da cana e o
preparo para o açúcar. Nestas unidades trabalhavam escravos e feitores a
serviço do senhor de engenho. Havia ainda o lavrador, um arrendatário que
assumia terras e dividia a produção pelo uso da moenda. Nem todas as
propriedades possuíam engenho, este era composto por instalações que moíam a
cana, a caldeira que purificava o caldo e a casa de purgar que completava a
purificação. Havia ainda as emblemáticas casa-grande e senzala, a pequena
lavoura de subsistência e as matas para coleta de madeira. Os trabalhadores
livres, incluindo ex-escravos, estavam dedicados a feitores, caixeiros e
purgadores.
Além do açúcar, o engenho
produzia a aguardente, exportado para a África, era moeda de troca para adquirir
outros escravos. As destilarias eram chamadas de engenhocas. O tabaco, também
cultivado nas lavouras, era igualmente utilizado no comércio com os africanos
comerciantes de escravos fornecidos ao mundo colonial.
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REFERÊNCIAS:PRADO JÚNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 30º
ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
SOARES, Rodrigo Goyena. História do Brasil I. São
Paulo: Saraiva, 2016.
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